13/05/2025

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Piero Coda: “A sinodalidade vai marcar o caminho da Igreja no terceiro milênio”

Piero Coda: “A sinodalidade vai marcar o caminho da Igreja no terceiro milênio”

Piero Coda é secretário da Comissão Teológica Internacional. Ele participou em um encontro organizado pelo Grupo de Antropologia Trinitária e o Centro de Formação-Cebitepal.

O sacerdote e teólogo italiano assegurou à ADN Celam que foram dias intensos de trabalho juntamente com teólogos e filósofos. “Analisamos temas da Igreja hoje à luz da revelação de Deus, que é Trindade, amor, acolhida, superabundância de amor para todos e todas”.

Foi construído um plano de trabalho de três anos. Além disso, organizou-se o conservatório “Sinodalidade e reciprocidade: caminhos de encontro e comunhão”, em que Coda dissertou sobre esse modo de ser Igreja ao qual o Papa Francisco convidou com o processo sinodal.

Diálogo transdisciplinar

Com a avalanche do secularismo, como a teologia pode manter a sua relevância nos debates públicos sobre ética, justiça e direitos humanos?

A presença da teologia no debate público é fundamental hoje. Justamente para abordar alguns nós essenciais do ponto de vista do crescimento da promoção do humano é necessária uma luz que coloque em releve o significado, o destino da existência humana. Essa é a tarefa da filosofia por um lado e, por outro, da teologia, a qual dá uma contribuição às ciências e às técnicas com a visão de Deus, que é origem e fim do universo. Essa é uma contribuição fundamental que, apesar de tudo, cada vez mais está sendo percebida por outras ciências em um diálogo transdisciplinar, essencial para promover o humano.

Como os teólogos podem envolver-se em crises como a mudança climática, as migrações e a disrupção tecnológica?

É fundamental que a humanidade enfrente essa grande mudança climática, as migrações – diz-se que é o sexto continente em movimento. A inteligência artificial é uma perspectiva tecnológica que hoje em dia é muito importante. A política internacional vive uma polarização muito forte; faz falta pensar de maneira nova, de ver as coisas de maneira diferente. Faz falta uma colaboração distinta e, nesse sentido, a luz cristã, a revelação cristã, é fundamental.

Desmasculinizar a Igreja e a teologia

Como você vê o papel das mulheres na teologia?

Sem dúvida, vejo que o serviço das mulheres na teologia ainda está muito pouco desenvolvido. O papa Francisco disse a nós da Comissão Teológica Internacional que há de se desmaculinizar a Igreja e a teologia. De fato, na América Latina e no Caribe há uma presença muito significativa em termos de aumento da participação das mulheres na teologia com uma contribuição muito específica e fundamental. Creio que o processo sinodal segue abrindo um caminho cada vez maior para essa participação das mulheres na teologia.

Voltar ao ponto de partida

Que potencial você encontra na sinodalidade para responder aos desafios do século 21?

A teologia é sinodal e tem dois aspectos fundamentais. O primeiro é que a teologia tem que ser feita de forma sinodal, tem que colocar diferentes perspectivas, experiências contextuais, há que ser feita de forma dialógica. Por outro lado, a tecnologia tem que abordar os temas, os nós de uma reforma, uma conversão da vida para que a comunidade cristã se volte ao ponto de partida de uma nova missão da Igreja em nosso tempo.

Como compreender a sinodalidade em sua justa dimensão sem atentar contra a chamada ordem sagrada ou confundir-se com processos democráticos na Igreja?

Sim, a sinodalidade é um conceito muito grande, contemporâneo, recente. O certo é que é um conceito que vem do início da Igreja, desde a primeira comunidade em Jerusalém, como narra o capítulo 15 dos Atos dos Apóstolos. Ali fala do Espírito Santo. É Ele quem expressa o “nós”. Escutamos o Espírito, que se expressa por meio da orientação do ministério ordenado, em especial os bispos, que tem o papel de guia, ao mesmo tempo de promover a escuta e o discernimento em comunhão com toda a comunidade cristã.

Então, a sinodalidade não é um atentado contra a comunhão onde existe uma autoridade ministerial, mas é sim um enriquecimento da vida da Igreja no sentido de participação de todos que têm e que podem fazer escutar a sua voz. É claro que alguém tem a tarefa específica e a graça de guiar a todos.

Sair às periferias

Como é possível vincular a teologia acadêmica com as comunidades de fé?

Os jovens teólogos têm uma tarefa fundamental hoje mais do que nunca. Antes de tudo, de estar enamorados de Cristo, de viver uma teologia como disse o Papa Francisco “de joelhos”, alimentada pela oração e pela vida de comunhão; depois, não ter medo de ir às periferias [existenciais], ali onde estão os problemas, os sofrimentos mais profundos de nosso tempo. Ali o Evangelho tem que falar.

Igreja do terceiro milênio

Como você visualiza a teologia para além do pontificado do Papa Francisco e qual contribuição você considera mais importante do seu magistério?

Penso que a contribuição maior é o de começar o caminho sinodal, que é uma atualização do Concílio Vaticano II. Essa etapa vai marcar o caminho da Igreja no terceiro milênio. Não é algo que termina em pouco tempo. Logo, o Papa Francisco promoveu a reforma da teologia.

Eu penso na constituição apostólica Veritatis gaudium que, em seu proêmio versa sobre uma abertura de horizontes muito grandes, propõe-se uma reforma universal, global da teologia que volta a encontrar o seu lugar na enciclopédia dos saberes com a sua tarefa de iluminar os outros saberes.

Eu sempre estive em muita sintonia com os grandes mestre da fé cristã. Desde Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, por outro lado, os grandes mestres da experiência mística cristã, João da Cruz, Ignácio de Loyola, até chegar ao nosso tempo com Chiara Lubich.

Logo, considero os testemunhos de um pensamento filosófico que buscou os caminhos da verdade e os testemunhos do pensamento religioso; penso em um personagem como Buda… Então, uma teologia que escuta muitas vozes, porém que o faz como se escutasse como única voz, a de Cristo.

Fonte: entrevista publicada por ADN Celam.

Tradução: Luís Henrique Marques

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