Investir no caminho sinodal

Por Luís Henrique Marques
Artigo publicado originalmente na edição da revista Cidade Nova, edição de janeiro-fevereiro de 2024, p. 5.
Foto: Luís Henrique Marques.
[…] retomamos o tema da sinodalidade na Igreja, especialmente motivados pela realização do sínodo, cuja conclusão está prevista para o final deste ano. Mais do que tratar das questões específicas que esse sínodo tem abordado, queremos refletir, uma vez mais, sobre o seu “espírito”, isto é, sobre o que significa caminhar de forma sinodal. É disso que tratamos na matéria de capa desta edição.
Aqui, proponho apenas uma pequena reflexão a esse respeito. O caminho sinodal nada mais é que o caminho coletivo, comunitário. Não parece difícil entender, mas – como o sabemos – é bastante desafiador percorrê-lo e chegar a bons resultados. No âmbito da Igreja, como em outras organizações, é sempre mais fácil esperar que alguém, supostamente mais habilitado, diga o que fazer sobre qualquer coisa que se refira àquela organização. Parece-me que, no fundo, essa é uma tentação bastante comum entre muitos de nós.
Reclamamos quando não somos ouvidos ou considerados, quando não há espaço para o diálogo, mas, com frequência, nos cansamos ou nos sentimos inseguros em assumir as decisões tomadas em conjunto e esperamos que, alguém, afinal, se imponha, decida e faça o que tem que ser feito.
Na Igreja, existe a autoridade. Mas o que queremos descobrir é como não tratá-la como o chefe que é o único que sabe o que está certo ou errado, que sabe o que e como fazer. Por meio desse caminho sinodal, a Igreja – a começar das autoridades eclesiásticas – quer ouvir o seus fiéis, promover o diálogo interno e, sob a luz do Espírito Santo, encontrar maneiras de melhor realizar a sua missão evangelizadora.
Para que isso aconteça, há exigências a serem cumpridas. Além de comprometimento e engajamento na vida da Igreja, o fiel (refiro-me, em particular, à leiga e ao leigo) realmente interessado em fazer parte desse processo sinodal precisa habilitar-se minimamente para isso. Nesse sentido, penso o quanto é importante a formação catequética (ou mesmo teológica) contínua, especialmente à luz da leitura e interpretação bíblica, a ser feita com a devida assessoria de quem tem competência para tanto.
Creio que esse é, hoje, um investimento absolutamente necessário àquele fiel que deseja oferecer a sua contribuição pessoal, por menor que seja, à vida eclesial com um mínimo de responsabilidade e qualidade. Precisamos de inteligência e sabedoria, devidamente alimentadas, para nos posicionarmos com coerência e equilíbrio sobre o que acontece hoje na Igreja. Trata-se de um processo de aprendizado e diálogo contínuos que demanda perseverança, paciência, humildade, entre outras virtudes.
Essa experiência, cujas raízes encontram-se na chamada Igreja Primitiva, é aquela que nos permite, afinal, vermo-nos como irmãos, apesar das nossas diferenças. Isso é o que faz da Igreja ser aquilo que ela deve ser; fora disso, sobra muito pouco para justificar a sua existência. Uma leitura atenta das Sagradas Escrituras, em particular dos Atos dos Apóstolos e das cartas do Apóstolo Paulo, é capaz de nos dar uma pista disso.
Enfim, partilhar, decidir e fazer juntos dá muito mais trabalho, como sabemos. Mas os frutos podem ser muito melhores e mais abundantes. Além disso, é preciso que não nos esqueçamos de que, como cristãos, o que nos distingue é, no seguimento do Cristo, carregar a própria cruz, isto é, assumir e enfrentar as dificuldades, os próprios limites e os limites do outro. Para o cristianismo verdadeiro, não há sucesso, glória ou ressurreição sem isso.